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Amante da boa mesa e de um bom vinho (sem dispensar uma boa cachaça, é lógico) e... gente boa acima de tudo

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Lugar de homem é na cozinha sim, ora bolas!

Lembro-me que eu tinha cinco ou seis anos de idade, quando minha avó começava os preparativos para a ceia de Natal. Você pode pensar que os trabalhos se  iniciavam um ou dois dias antes da festa. Para minha avó, isso seria simplesmente impossível. Ela começava os preparativos um mês e meio antes com a compra do peru e do porco VIVOS.

Iniciava-se, então, o processo diário de engorda dos bichos.
Primeiro o PERU. A ração era enfiada (literalmente) goela abaixo da pobre ave. Eu achava um barato aquela senhora de 70 e tantos anos, de cócoras no quintal, agarrada ao pescoço do peru, enfiando milho, arroz, farinha, no bico da criatura sem dó nem piedade. 

Agora a engorda do PORCO. Sabugo de milho, cascas de frutas e todo o que era resto de refeição ía ao bicho.

O que sei é que perto do Natal, o peru tinha virado algo perto de um pterodátilo, e o porco dava carrera em qualquer javali. Dois dias antes da ceia, começava o ritual de sacrificar os animais. Sim, porque "sacrificar" é o termo mais apropriado para o ritual que minha vó fazia pra matar os bichos.

De novo, primeiro vou explicar a forma de sacrificar o peru. Ela pegava um saco de estopa, cobria a cabeça da ave e torcia o pescoço dela até quebrar. Depois fervia um panelão d'água e jogava o peru dentro com pena e tudo. Alguns minutos depois era só depenar facilmente o futuro "peru recheado".

Agora, o método de transformar o porco em comida. Começava com a amolação do facão no fio de pedra. Depois de segurar e amarrar a criatura, vinha o golpe fatal: uma lapada na nuca logo abaixo das orelhas seguido de um barulho horrível (digno de filmes de terror) do porco grunhindo e se debatendo. Minutos depois, estava lá o corpo estendido no chão. O protótipo de linguiça e presunto iniciava seu processo de transformação. Esfola o bicho, tira as tripas e guarda o sangue pro sarrabulho, fatia as peças de carne, coloca no moedor, começa a encher as tripas com a carne moída, pendura no varal, faz as brasas embaixo e vai jogando água devagarinho pra levantar a fumaça. Pronto, a linguiça defumada já tava no ponto.

Depois de tudo isso, dá pra entender porque minha vó dizia que "lugar de homem NÃO é na cozinha". Desse jeito num é mesmo, pelo amor de Deus. E quem diz que mulher é o sexo frágil é porque não presenciou essa "saga gastrônomica" para preparar uma "simples ceia de natal".

Como sempre gostei de cozinha (influência direta da minha querida vó) mas detestava todo aquele "sacrifício" (tanto dela quanto dos bichanos) ficava indignado quando ela me mandava embora da cozinha simples e exclusivamente porque eu era homem. Daí surgiu a vontade de aprender e, agora, publicar as receitas dela de uma forma menos, como posso dizer..."trash". Algumas serão literalmente receitas da minha vó, outras terão a descrição original mas com variações de temperos e ingredientes, porém sem mudar a originalidade das mesmas.

Afinal, lugar de homem É na cozinha

4 comentários:

Aladir disse...

Maravilha Cadu! É isso mesmo, aqui todos os homens adoram cozinhar e certamente vão adorar seu blog! Abraço!

Anônimo disse...

é isso ai Tio..receitas da vovo pipica, nao tem igual! ;) PARABENS!

Blog do Rodrigo de Almeida disse...

Eu vou ficar só na engorda... tem gente demais na cozinha.

Rejane Feijó disse...

Cadu :
O Rodrigo disse que ia ficar na engorda pq tem gente demais na cozinha! Eu acho que ele tá é fugindo da comida. O avatar dele emagreceu pra caramba ! O seu blog está bem interessante. Adoro histórias de avós. Um dia, conto as histórias das minhas ... Quem sabe trocamos receitas!